E senti a glória imensa
De me ocultar ao ser visto por todos.
E me pus dentro de mim
Por não suportar mais
A minha própria companhia,
A vizinhança com meu eu
E o convívio comigo.
Desejei ampliar meu ser,
Multipliquei-me pra me sentir,
Pra me sentir precisei sentir tudo,
Disse o Pessoa
E a Ana C. não copiou,
Por isso eu copio.
Estive em todos os recantos
Claros, escuros, coloridos,
Desmanchei a pintura
De minha face
E nas cinzas renasci,
Refiz minha máscara
E diante do espelho
Senti novamente a glória
De estar oculto de todos,
Mas visível para mim.
Eu era a máscara
Que me mostrava
A realidade de uma
Existência, resistência, persistência.
Penitência.
E senti o êxtase de ser
Arlequinal,
Pierrônico,
Colombínico,
Rasgando as carnes da hipocrisia
E do mais do mesmo (saudade do legionário).
Minha commedia dell’arte
Encenada ao longo de 365,
No dia do descanso me fantasio
E na quarta-cinza
Reponho minha máscara.
Gláucio, lendo esses versos foi inevitável a lembrança das palavras de Picasso, mais ou menos assim: "A arte é uma mentira que permite que enxerguemos a verdade." Apenas que, ao fim do seu poema, fui tomado pela obrigação de ultrapassar tal filosofia da criação. Você mostrou que a arte é, de fato, verdade do princípio ao fim. A potência do eu lírico, sediado na poesia e irradiado em todas as dimensões humanas, permite a compreensão de verdades superiores àquelas que sucederam apenas no tempo (e por isso o vulgo as toma por mentiras). E quanto se trata de nosso próprio eu, ali adentramos nossas verdades que simplesmente se esqueceram de acontecer, para usar de Mário Quintana, ou verdades eternas, como diria Aristóteles ao estabelecer a superioridade da Poesia em relação à História, pois esta capta o que ocorreu, mas que poderia não ter ocorrido, enquanto aquela apreende o que é sempre verdadeiro, inobstante a cegueira de nossa visão.
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