terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O vampiro nosso de cada dia

Termino a leitura de “Eu sou a lenda”, do escritor norte-americano Richard Matheson. Originalmente publicada em 1954, a história já teve três adaptações para o cinema: The Last Man on Earth (Mortos que matam, 1964), The Omega Man (A Última Esperança da Terra, 1971) e o mais recente I am a legend (Eu sou a lenda, 2007). O personagem principal, Robert Neville, foi interpretado por Vincent Price, Charlton Heston e Will Smith, respectivamente.
            A leitura da obra que serviu de inspiração para três filmes classificados como densos e claustrofóbicos não poderia ser mais surpreendente, principalmente levando-se em conta o fato de que eu só conhecia o esqueleto da história pelas adaptações cinematográficas, pois o autor teve poucas traduções para o português (até há alguns anos só era possível encontrar por aqui o livro Em algum lugar do passado), fato que só mudou com as edições de Amor além da vida e do próprio Eu sou a lenda, ambos na esteira dos filmes neles inspirados.
            A trama gira em torno da luta de Robert Neville para sobreviver em meio à horda de vampiros na qual sua vizinhança, sua cidade e aparentemente o mundo inteiro se transformou devido à proliferação de uma bactéria presente no mundo há séculos e que, de acordo com as elucubrações do protagonista, foi a responsável por diversas catástrofes mais ou menos isoladas ao longo da história.
            Em uma época na qual os vampiros literários caíram no ridículo de narrativas águas com açúcar, se distanciando muito do personagem imortalizado por Bram Stoker ou modernizado pelas mãos habilidosas de Anne Rice ou André Vianco, há um prazer todo especial em uma história como a de Matheson, que consegue fazer-nos temer e ao mesmo tempo pensar com uma história que nos tira o sono ao percebermos o quanto a ficção tem de proximidade com o real.
            A luta solitária de Neville contra aqueles que tentam a todo custo transformá-lo em um deles ou destruí-lo nos remete aos padrões impostos pela sociedade e o que ocorre com aqueles que decidem não submeter-se a tais padrões.
Vivemos em um mundo que nos determina o que vestir, o que comer, o que ver, o que [não] ler. Que vende como correta uma atitude de irresponsabilidade, como se a vida fosse uma eterna curtição regada a baladas, bebedeiras e ressacas. Um mundo que se tornou obcecado pelo prazer, num movimento hedonista sem quaisquer critérios. Um mundo que despreza o intelecto e coloca pais e professores como símbolos do ridículo e da caretice, ao invés de servirem de guias e modelos.
Ironicamente, Neville lê Bram Stoker e se depara com a frase “A força do vampiro é que ninguém acreditará nele.”, e constata que era a mais plausível verdade, a única explicação para o fato de todo a humanidade ter sido dizimada pela bactéria sem nem mesmo se dar conta. Não acreditar no risco nos impede de ver que o perigo é real e imediato, não nos permite a devida imunização contra uma verdadeira praga disseminada sorrateiramente em big brothers, fazendas, séries com adolescentes descerebrados e até mesmo nos desenhos animados que deveria ter um caráter educativo.
Neste ponto do livro de Matheson, lembro-me do poema de Martin Niemöller sobre a postura apática dos intelectuais alemães quando da ascensão de Hitler ao poder e suas atitudes de eliminação dos grupos que incomodavam aos padrões sociais por ele impostos:
Quando os nazis levaram os comunistas,
eu calei-me, porque, afinal,
eu não era comunista.
Quando eles prenderam os sociais-democratas,

eu calei-me, porque, afinal,
eu não era social-democrata.
Quando eles levaram os sindicalistas,
eu não protestei, porque, afinal,
eu não era sindicalista.
Quando levaram os judeus,
eu não protestei, porque, afinal,

eu não era judeu.
Quando eles me levaram,
não havia mais quem protestasse.
 Diante de um quadro destes restam apenas duas opções: tornar-se um dos vampiros que gritam diante de nossa porta ou resistir com todas as armas disponíveis, sejam elas automáticas, estacas de madeira ou a simples convicção em seus ideais.
Há muitos Nevilles espalhados pelo mundo que resistem à vampirização, buscando curar aqueles pobres infectados pela ignorância, pela indiferença, pelo sono que não lhes permite ver a luz do dia. Assim como o personagem da narrativa de Matheson, eles são caçados, ridicularizados, ignorados, marginalizados, taxados como nerd’s ou cdf’s, vistos como estranhos, despreparados. Suas ideias e ideais não podem ser refutados com argumentos, então são combatidos pela força bruta e pela lavagem cerebral incessantemente levada aos que os cercam. É assim que eles se tornam indivíduos solitários.
Alguns se cansam da luta e se rendem ao lugar comum das situações, mutilando-se, sendo aquilo que a sociedade espera deles e não o que eles sabem que são. Outros lutarão até o fim, mantendo-se fiéis a si mesmos, contra tudo e contra todos, da mesma maneira que Neville resiste até o fim da narrativa.
Interessante o que uma obra pode nos provocar. Comecei a ler o texto de Richard Matheson como uma narrativa sobre vampiros e terminei por perceber sua crítica aos comportamentos impostos pela sociedade à massa. E estremeci ao pensar que o destino dos que se opõem à maioria é o de ser eliminado ou enaltecido.
De qualquer forma, o lendário nos cai bem.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Sob o sorriso da lua

Sob o sorriso da lua
Uma voz que se faz outra,
Um semblante que transfigura a mensagem.

Sob o sorriso da lua
A presença sentida, sabida, sonhada,
O abraço saudoso de quem antecedeu.

Sob o sorriso da lua
Nos reencontramos,
Nos buscamos,
Nos reconhecemos.

Sob o sorriso da lua
Mil ecos de esperança
Duram enquanto vibram no éter.

Sob o sorriso da lua
O tempo parou no eterno,
Um achado do que nunca se perdeu.

Eles vieram nos abraçar
E nos lembrar o que não olvidamos.
Rios rolaram em gotas quentes e salgadas,
Sorrisos se fizeram maior brilho.
Mãos, corações, ideal, pensamentos entrelaçados
Provando que o confiar é pleno.
E tudo aconteceu sob o sorriso da lua.



Pedro Leopoldo (MG)
06-06-10

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

É possível

Sua ausência não é distância,
O tempo que passa
Aumenta-nos os elos,
Estreita-nos os laços.
Talvez me olhe do infinito.
Talvez me observe do berço.
Quem sabe se faça presente na prece,
Ou então seja presente do Eterno...
08/08/2010
(Dia dos pais)