segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O Mártir



Ardem fogueiras por toda parte,
Do alto é como se estrelas
Se acendessem no solo,
Mas as estrelas são luz
E estas fogueiras
Trazem as trevas.

Ardem fogueiras por toda parte,
Chamas erigidas em nome Dele,
Mas nas quais tantos servos seus
São lançados.

Ardem fogueiras por toda parte,
Anônimos e lembrados
Caminham resolutos ou arrastados
Ao martirológio em nome da fé
Enquanto os céus choram
A insensatez humana.

Ardem fogueiras por toda parte,
E em uma delas
As asas atadas,
A mente liberta,
A fé defendida,
A morte não temida
No testemunho do Testamento
De amor e sacrifício
Em busca da luz.

Ardem fogueiras por toda parte,
Mas as mesmas chamas que consomem
Trazem o calor que forja o aço.
A mesma morte que promete trevas
É passagem para a luz.

Ardem fogueiras por toda a parte,
Arde um ideal,
Arde um sonho
Que há de voar
Em céus tais
Que chama alguma
Há de lhe arder.

Arde a promessa...

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

O Centurião



Cafarnaum...
Tuas ruas testemunhas
De tantos clamores,
De tantos primores,
Maravilhas que maravilham
Ainda que milhares de séculos
Sejam sobrepostos.

Cafarnaum...
O Centurião ainda te cruza
Em busca de luz,
Luz para a vida,
Luz para o outro.

Cafarnaum...
A fonte ouviu o pedido,
A fonte ouviu a promessa,
A fonte presenciou a fé,
Fé nunca antes vista,
Semente plantada em boa terra
Com promessa de frutos no porvir.

Cafarnaum...
Tuas ruas guardam a memória
Que os homens recusam lembrar...

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

O Druida



Grande Árvore Branca,
Que histórias contas?
Quantos cajados
Foram de encontro
Ao teu tronco
Com a reverência
De filhos gratos...

Grande Árvore Branca,
Que segredos guardas?
Sob tuas copas
Um manto de peles
Ondulou ao vento
Ocultando o caminhante.

Grande Árvore Branca,
Que saudades carregas
Daquele que buscava a luz,
Que perscrutava as estrelas,
Que sabia ouvir a voz das matas.

Grande Árvore Branca,
Que pena termos olvidado
Tua língua.
És a única que se recorda
De que palavras e encantos
Foram ditos em alta voz.

Grande Árvore Branca,
Que Além dos Cardos ergue-se,
Ainda que te não entendamos,
Faz-nos recordar.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

O Faraó



Quando o Sol
Derrama-se nas ruínas de Karnak,
As sombras contam
Antigas histórias.

Quando o Sol
Passa pelas pedras eternas,
Estranhos sussurros
Soam em silvos
Ao vento.

As areias guardam memórias
Dos pés que ali pisaram,
Dos joelhos que ali se dobraram
Das vozes que ali se elevaram.

As rochas ainda observam
Saudosas daquele que em busca da luz
Ousou louvar ao Sol.
 Ousou louvar a Um só.

Em busca da luz
Enfrenta as trevas
Que tentam afogar-lhe
A existência,
Apagar sua história.

Mas as rochas se lembram,
As areias contam,
As ruínas lamentam
E o Sol ainda brilha.