segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

A Cigana e o Vento




Foi em terras do Oriente,
Envoltas em tantos segredos,
Que brotou bela semente
Flor jovem entre os dedos,
Caminhante de tempos idos,
Errante de passos esquecidos.

A bela cigana menina
Que bailava ao entardecer,
Tal como rosa a florescer
Cada vez mais feminina,
Atingindo a mocidade
Como promessa de felicidade.

Tantos homens suspiravam
Ansiando um sorriso, um olhar,
Almejando as flores que brotavam
Da Cigana em seu bailar.
E tantos ardiam em agonia
Entoando o mote que dizia:

“Cigana, me dê teu coração!
Aceita, te estendo a minha mão!
Oh, bela! Tu és a minha luz!
Me enleva, teu bailar me conduz!”

Mas o que ninguém imaginava
É que nela já pulsava louca paixão
E que seu peito era um vulcão
Onde o amor já transbordava,
E com a alma repleta de agonia
Amava muito mais do que podia.

Sentimento que a completava,
Um amor que era um tormento,
Uma paixão que a inflamava,
De tanto dançar ao vento,
Aconteceu o que nunca se esperou,
Pois pelo vento se apaixonou!

Mas o vento é menino levado
E não para um minuto sequer;
E é por isso que Cigana caminha,
Pés na estrada, coração enamorado,
Pelo mundo feito avezinha
A menina cigana se fez mulher.

“Oh, Vento! Te estendo a minha mão!
Me envolve, me arrasta qual tufão!
Escuta, ouve o meu cantar,
Que é teu, só teu o meu bailar...!”

E tantos foram seus caminhos
Buscando o seu grande amor,
Que até o vento em redemoinhos
Rendeu-se ao seu clamor,
E a dançar, assobiar e rodopiar
Por seus carinhos se deixou levar.

Seu amor só fazia crescer,
Em tantas terras, tantas vidas
Que mesmo as lágrimas sofridas
Eram como estrelas no alvorecer.
Tantos corpos a Cigana vestiu
Mas a chama não se extinguiu.

“Cigana, recebe os beijos meus,
Contigo não sei dizer adeus!
Bailemos num passo atemporal,
Sou vento e você meu vendaval!”

Cantem alto os violinos,
Pra contar a toda gente
Que nas trilhas dos destinos
Deu fruto aquela semente,
E que festeje toda a ciganada
A memória dessa lenda inacabada.



19/02/2016

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Chamado



Ele me disse no íntimo:
“Vem e segue-me!”
E me alertou desde logo
Que seu caminho
Era para ser trilhado
Com os olhos firmes na meta.
Era estrada pedregosa,
Estreita e de margens áridas.

Ele me disse no íntimo:
“Vai e vence-te!”
E me ensinou pronto e reto
Que não cabe ao homem
Ser melhor que outro homem,
Mas ser a cada dia
Um vitorioso de seu eu,
Ser sem melhor que a si mesmo.

Ele me disse no íntimo:
“Vem, toma de meu vinho!”
E me fez saber do amargo que vem no início
E das delícias do mais à frente.
Aplacou a sede que me abrasava
Há tanto tempo que eu nem sabia desde quando.

Ele me disse no íntimo:
“Vem, este é o pão que sou!”
E saciou minha fome,
Acalmou meu cansaço,
Deu-me o alento que nasce
Da certeza filha da esperança.

Ele me disse no íntimo:
“Vem e toca!”
E preencheu-me de tudo
Arrancando-me tudo:
Todo o meu orgulho,
Toda a minha ilusão,
Tudo o que nunca foi meu,
Tudo o que nunca foi eu.

Ele me disse no íntimo:
“Vem, a minha paz agora é tua!”
E desde esse dia
Nada mais me falta.