segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Quando eu morrer quero ficar



Quando eu morrer quero ficar,
Não contem ao Mário de Andrade,
Mas quero ficar insepulto.
Não posso contentar-me
Com o sono eterno dos justos,
Nem com a estúpida contemplação
Do paraíso, seja lá que nome possam lhe dar.

Quero ficar insepulto
Na mais fina acepção do termo,
Pois que apenas poderão
Enterrar-me o corpo,
Essa massa ignorante.

Quero ficar de boca em boca,
Quero permanecer de um jeito
Mais transcendental que fantasmagórico.

Não quero a morte brônzea das estátuas,
Mas a vida incessante das ideias.

Então contem a todos, menos ao Mário de Andrade,
Que quando eu morrer quero ficar.
Glaucio Cardoso
22/09/16