quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Aequalitas¹

A morte de cada homem diminui-me, porque eu faço parte da humanidade;
eis porque nunca pergunto por quem dobram os sinos: é por mim.
John Donne
(1572 – 1631)
Poeta Inglês
Hoje não cantarei
o sacrifício dos mártires
não lamentarei
o holocausto dos inocentes
também os desesperados
perseguidos e humilhados
não receberão
as gotas de meu pranto
Antes que me acusem
que me apontem insensível
que me olhem com desprezo
eu explico para quem
minhas lágrimas correm
Eu choro os odiados do mundo
pois por eles não há quem reze
e enquanto muitos lhes desejam os infernos
peço a Deus que os receba
guiando suas consciências
ao reconhecimento de seus atos
Enquanto a turba celebra
a morte de assassinos
elevo uma prece em seus favores
As manchas de um crime
não se lavam com um outro
que tinge as mãos “justiceiras”
No momento derradeiro
um homem é só um homem
e não há diferenças
Por isso eu oro
por aqueles por quem não oram
pois reconheço em sua humanidade
a mesma que existe em mim
E quem sabe
um dia
alguém
me há de lembrar

20/10/11
Dia em que o ditador líbio Muamar Kadafi foi morto. Deus o ampare.


[1] Igualdade (latim)

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

E se for...

            A quem vai chegar
E se for nosso filho...
Terá os olhos de mim?
Correrá pés no chão,
Peito nu, riso ao vento?
Rolará gudes infinitas,
Empinará papagaiopipandorga lá no azul?

E se for nossa filha...
O batom da mãe em sua face?
Vestirá as bonecas filhinhas?
Embalará sonhos, pães doces, picolés?
Da mais velha será o espelhinho?

E se for menino...
Brincará na chuva,
Roubará mil mangas,
Sonhará estrelas.

E se for menina...
Bordará a lua,
Colherá mil flores,
Moldará as nuvens.

E se for rapaz,
Cachos longos,
Olhar claro.
E se for moça,
Dedos finos,
Voz presente.

E se for homem
Educação, cortesia, cavalheiro
Encantará as damas,
Fará admiração nos iguais.
E se for mulher
Sabedoria, força, independência
Conquistando reis
E sendo exemplo alheio.

E se for tempo
Saberá escolher caminho,
Espalhar cultura,
Encontrar mil cores,
Semear a paz.

E se for único,
E se for última,
E se for tudo,
Que sejamos nós orgulho,
Que sejamos nós conselho,
Que sejamos nós amparo,
Que sejamos quatro braços
A formar um só abraço.

E se for só isso,
Será tudo que sonhamos
E mais do que pedimos.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Ah, menino...

                                                    A Rodrigo Luiz
O menino-gigante,
com estrelas na face,
estende as mãos,
toma impulso pro salto
e num pulo infinito
busca e alcança
a poeira de sonhos
que lhe transborda
da concha das mãos.
Com o curvilíneo alojado entre os braços
ou o sorridente marfim diante de si,
o mundo inteiro cabe
nos seus dedos que acordam
e na alegria do branco
semi-oculto em seus lábios.
Em cada volta, ou re-volta,
ele traz a inocência
que lhe torna sábio
em experimentar o inédito.
 
E tenta
E arrisca
E erra
E insiste
Aprendendo por fases,
captando  lições
a tornar-lhe mestre de si.
 
Não deixa, menino,
que tua luz te ofusque o olhar
e te apague o saber;
que a escura rotina pétrea
não venha aplacar
a alma de arte
nascida de teu sonhar.
 
Menino-gigante,
menino-arteiro,
menino-atrevido...
Teu salto de hoje
é apenas ensaio
do instante mais alto
que tens pra voar.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Desenho de Palavras

De seus dedos surgem imagens,
Formas e cores infindas,
Sorrisos nascem e olhos se abrem
No papel que se curva
Aos seus desejos e sonhos...
O olhar vem e vai seguindo os dedos
Que obedecem às idéias,
Plasmam o real...
Levemente inclinada num pedaço de infinito
Ela faz surgir o etéreo...