segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Icarus




I – Asa esquerda
O sol a brilhar é um convite,
Um chamado ao voo
E eu, com minhas asas tão pesadas,
Ouso sonhar em banhar-me em tal claridade,
Mas ofusco-me por não ter olhos de ver.
Mas o sol me chama
E em chamas derrete a cera
Que me mantêm atado
Às penas presentes.
Será preciso abrir mão
Das asas para voar livre?
Mas o sol me chama
E em chamas aparento cair
Enquanto ascendo
Numa louca confusão
De penas e luzes...

 

II – Asa direita
Quantas vezes eu caí,
Quantas já me levantei,
Sempre em busca dessa luz
Prometida no infinito.
Preso às penas de outrora
Não posso seguir além,
É preciso, é urgente
Abrir mão do que não sou,
Derreter o meu apego,
Pois o sol ainda me chama
E em suas chamas
Ofusco meus olhos de não ver.
Quantas vezes eu caí,
Quantas já me levantei,
Aprendendo com o chão
A sonhar um voo mais alto.
Libertando-me das penas
Que eu mesmo em mim atei,
Vou alçando-me do solo,
Vou livrando-me da cera
E será assim enquanto
O sol ainda me chama
E com chamas me aquece.
Quantas vezes eu caí,
Quantas já me levantei,
Sempre em busca desse céu
Que construo em cada voo.


23/03/2015