quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Poesia é...

(de uma pergunta que ainda não acabei de responder)
Um homem no meio da noite com uma bolsa cheia de livros
Um homem no meio da noite com livros cheios de bolsas
Um homem no meio da bolsa com uma noite cheia de livros
Um homem no meio da bolsa com livros cheios de noite
Um homem no meio dos livros com uma noite cheia de bolsas
Um homem no meio de livros com uma bolsa cheia de noites
Uma noite no meio do homem com uma bolsa cheia de livros
Uma noite no meio do homem com livros cheios de bolsas
Uma noite no meio de bolsas com um homem cheio de livros
Uma noite no meio da bolsa com livros cheios de homens
Uma noite no meio de livros com um homem cheio de bolsas
Uma noite no meio de livros com uma bolsa cheia de homens
Uma bolsa no meio de homens com uma noite cheia de livros
Uma bolsa no meio de homens com livros cheios de noite
Uma bolsa no meio da noite com um homem cheio de livros
Uma bolsa no meio da noite com um livro cheio de homens
Uma bolsa no meio de livros com um homem cheio de noites
Uma bolsa no meio de livros com uma noite cheia de homens
Um livro no meio dos homens com uma noite cheia de bolsas
Um livro no meio do homem com uma bolsa cheia de noite
Um livro no meio da noite com um homem cheio de bolsas
Um livro no meio da noite com uma bolsa cheia de homens
Um livro no meio de bolsas com homens cheios de noites
Um livro no meio da bolsa com uma noite cheia de homens
homemlivrobolsanoite

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O MUNDO E ELE

Ele ficava feliz
E o mundo todo o imitava;
Quando ele acordava bem humorado
O dia amanhecia mais bonito;
Se os pássaros cantavam da manhã até a tarde
Era por ele ter passado o dia assobiando.
Ele respirava fundo num sorriso
E a brisa corria suave e amena.
Quando à tarde ele se espreguiçava com satisfação
As estrelas sabiam que era hora de aparecer.
E se ele ficava pensativo
O mundo se enchia de filosofia.
Um dia ele me olhou nos olhos
E eu me vi todo nesse olhar.
E quando seus olhos se fecharam
A noite se fez completa,
As estrelas rolaram como lágrimas do firmamento,
E as nuvens cobriram todo o céu
E apenas uma janela se abriu
Para o sol iluminar seu leito.
E naqueles olhos fechados,
Sonhadores de sonhos nunca sonhados,
Senti-me um adulto acordando...
Hoje, o sol ainda brilha,
As estrelas aparecem de novo,
Há dias tão belos quanto os de antes
E os pássaros recordam velhas canções
Isso me faz saber mais do que acreditar
Que ele continua a cantar,
A sorrir,
A pensar,
A viver.
Para uns ele era um amigo,
Outros o chamavam de irmão,
De alguém ele foi o filho,
De um outro alguém foi coração.
Mas se de mim quiserem saber
Eu direi simplesmente:
“Ele era meu Pai.”
22/11/03

Nivaldo de Oliveira Cardoso
20/09/1944 - 20/05/2002
Obrigado por me ajudar a ser quem sou

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Confissão de amigo

De tempo e de espaço forma-se o que chamam de existência. Concepção, nascimento, experiências, desagregação, eternidade...
Caminhamos em múltiplas formas, rostos e nomes que se sucedem em um contínuo infinito.
Nos encontramos e reencontramos por tempos e ciclos inumeráveis, criando e recriando elos, fortalecendo e estreitando laços.
Que bom é poder olhar pra você, te reconhecer sob a nova face, te presentificar em meus caminhos novamente.
Que alegria saber-te aqui; seja perto, seja distante, mas sendo presente real e pleno.
O tempo que passamos juntos, tocando corações e mentes, sentindo a existência um do outro, é um tempo que será alívio em forma de lembranças quando o vento da saudade soprar em nossas faces.
Cada um de nós é um pequeno ponto de luz em meio às trevas; quando estamos separados formamos imensa galáxia repleta de constelações com as mais diversas imagens.
Em nossos momentos de reencontro, as tímidas luzes que trazemos agigantam-se, transformando-se em imenso sol cujo calor se irradia para todos aqueles que de nós se aproximam, alcançando mesmo aqueles que se julgam afastados.
Por muito tempo caminhamos em retas paralelas; por muito tempo ainda nossos caminhos parecerão nunca se encontrar.
Agora que descobrimos um ao outro; agora que nossas faces não mais se mascaram em meio à multidão; agora que encontramos no outro uma parte de nós mesmos, jamais estaremos sozinhos novamente.
É tempo de arte, de dizer a verdade, de encontrar o amigo e falar de nossos sentimentos.
O futuro está à nossa frente.
O Cristo em nosso pensamento.
O aprendizado em nossas pegadas.
O amigo ao nosso lado.
E acima de nós, apenas a eternidade das estrelas.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

conversando em estado óbvio

porque se alguém me perguntar
numa indagação imprevista
como definir o que sai da minha cuca,
eu não sei se me farei,
não sei se saberei,
não sei se falarei,
nem se eu mesmo entenderei.
mas aqui vai o escrito
e o que aqui for fica dito.
eu não escrevo nada de novo,
estou sempre conversando pelos textos.
aprendi com ana cristina césar
a capturar versos alheios pois
todos me pertencem, agora sei.
por isso sou uma camões desconcertado neste mundo
cruzando linhas feito um garrett
em cordéis de amor ao merlânio e ao azulão,
não me furto ao olhar do condor de alves,
devasto minhas terras ao som
de um coro de gatos eliotianos
e sei que sou incapaz de
multiplicar-me como pessoa,
por isso somo múltiplos quartetos cabralinos
educando uma pedra encontrada por aí
e que o carlos já andou esquisitando.
eu desvairo o mário,
atropofagizo o oswald e a patrícia,
eu transo os gitanos cantantes,
yo alabo al chiflado lorca
e me transmudo num parnaso de além túmulo
como um xavier heteronímico
ainda cantando meus ideais,
e não sendo de poemas de amor
vou me contentando com desesperadas canções
com tantas vozes emprestadas,
kaváfis, prados, rochas,
moriconis, carlitos e outros
que nem sei lembrar
mas que fazem parte
de meu grafite
a se repetir a pergunta
sem resposta
(melamed onde está você?)
que regurgito no antro
das linhas que não
paro de riscar em
febre, êxtase e agonia.
é que eu tenho em mim
o dobrar de pobres campanários
vestidos com o branco de cruz
e tangidos pela lira de sousa ou andrade.
há ainda tantos que tem me encontrado
sem que eu encontre
um jeito,
um meio,
um termo,
um dedo de prosa.
queria ser catullo
e da paixão humana
cordelizar o mundo
sem nada dever ao próprio
e pôr um termo a tudo
embora já não saiba
como finalizar
este isto clariceano;
que fique tudo inacabado,
pois me construo dia a verso
passo a passe,
e se nem o ponto certo
será meu ponto final
que fiquem aqui as reticências
...

glaucio cardoso