domingo, 28 de agosto de 2022

O silêncio do Rei

 

Imagem: Giovanna Gonzaga


Chega o mês do número infinito,

mês que parece inacabável.

Mas é também o mês do recolhimento.

Do primeiro ao último dia,

nas trinta e uma manhãs,

trinta e um anoiteceres,

trinta e um passos,

trinta e uma oportunidades,

trinta e um momentos únicos,

do primeiro ao último,

um Rei caminha entre nós.


Seu rosto coberto não oculta seu saber.

Sua humildade discreta evidencia

a majestade de seu andar.

Sua reserva impõe reverência e respeito.

É preciso merecer sua presença.

Assim TOdos TOmam sua bênção

como de um avô amoroso, justo e nobre.


Neste mês longo e especial,

calemos nossas queixas e,

em nosso íntimo,

façamos silêncio,

pois o Rei está entre nós.

Glaucio Cardoso

19/08/2022

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Do luto

 



Escrevo como forma de luto,

na esperança de que versos,

com ou sem métrica,

com ou sem rimas,

com ou sem,

sem…

de que versos traduzam

as lágrimas que guardo,

tanto quanto as que correm,

na esperança de que versos

substituam a vivência de um luto

que não temos mais como nomear.


Escrevo como forma de luta,

na tentativa de que os versos

desatem os nós na garganta,

na tentativa de que os versos

sejam gritos de protesto,

de denúncia,

de resistência

a toda a opressão

e violência que insistem

em imperar a cada geração.


Escrevo em luto,

escrevo em luta,

me recolho no luto

sem me encolher na luta.


E entre o luto e a luta,

escrevo…

Escrevo na esperança de reunir

versos para curar o tempo.

Glaucio Cardoso

10/09/21