Não te quero nem te gosto,
mas te preciso o tempo todo.
Tua existência me irrita,
me desagrada, me aborrece,
me completa, me auxilia.
Quero me livrar de você
a toda hora
e toda hora
te busco, te trago
e não te deixo.
Quando estás diante
de meus olhos
só faço recordar
o aborrecimento que me causas.
Quando te largo
não posso ter
o prazer maior
nem consigo entender
o que se passa
à minha volta.
Na rua não te exibo
para que não me deixes
constrangido.
Passo o dia sem você,
te esqueço, te abandono, te traio.
Em casa, te procuro na cama
para alguns momentos de prazer;
te uso até cair no sono
e percebo que
te usando te pertenço;
não sou livre
não sou dono
não sou meu.
Sou teu escravo
e dependente,
maldito óculos.
Lembrei-me de Aristóteles ao ler estes versos. O Estagirita afirmava que há três níveis de amor e amizade. O mais baixo é o nível da utilidade. Nossa sociedade com o outro passa pela sua instrumentalização. Superior a este é o vínculo pelo prazer: o outro é imediatamente agradável, mesmo que não traga qualquer benefício ulterior. O intressante é que há uma razão para a superioridade deste nível e outra para a sua inferioridade em relação ao nível seguinte, o do vínculo pela virtude ou excelência. Na utilidade não há essência nem intensidade, mesmo quando há instrumentalização mútua ("percebo que usando te pertenço; não sou livre, não sou dono, não sou meu"). No prazer também não há essência, mas há intensidade, pois ali certa idiossincrasia ou parte do outro nos faz regozijar fortemente, ainda que de modo fugaz ("em casa, te procuro na cama para alguns momentos de prazer"). Mas na excelência as duas perfeições se realizam. O excelente nos vincula fortemente pelo seu caráter, pela totalidade de seu ser.
ResponderExcluirNão sei eu qual a aflição que gera usar um óculo, em minha opinião sempre foi legal usar esse aparato, mas nunca tive necessidade. Mas sei que nem todo mundo pensa assim como eu, ou senão, mudarão de idéia ao começar a usar-los, mas sei eu que eles são muito para quem mau enxerga. A qualquer instante, poderiam dizer, é a esposa dele, é um livro, qual? a bíblia, mas não não era uma pessoa, nem um livro era um óculos, nosso, digo, vosso segundo par de olhos. Quem diria que encorporarias a escola simbolo-descritiva, isso é se issa escola existe, sabemos nos, que foi tão moderno quanto... parabéns Mestre.
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