Sentado no carro com meu cunhado e minha esposa, o rádio ligado em uma estação de grande audiência aqui no Rio de Janeiro, levo um susto: a emissora anuncia o momento de “Literatura com o Cardoso”!!!
Senti-me diante de um hiato. Cheguei mesmo a apalpar-me na ânsia de ter a certeza de que eu estava no carro e não em um estúdio. Mas se assim era como podia ser possível que estivessem a anunciar minha presença em um programa de rádio?
De repente tudo o que os físicos dizem sobre o multiverso passou a fazer sentido. Lá estava eu sendo anunciado em um lugar diferente daquele em que me encontrava conscientemente. Eu era eu e era ao mesmo tempo outro.
Senti que era quântico, cósmico, múltiplo, quintessência, intangível, incabível, inconcebível, pleno, total, macro e micro, alfa e ômega. Senti que era tudo e nada. Que estava em tudo e em todos. Tomei conhecimento de que era multi-eu, de que estava presente no espermatozóide que encontra o óvulo e ao mesmo tempo na última molécula que se desprende do pulmão de um moribundo. E a prova de que isso era real viria assim que eu começasse a falar ao vivo na rádio e me ouvisse no carro.
Comecei a falar pelos auto-falantes e percebi que não era a minha voz. Não eram as minhas idéias. Não era o meu pensar. Era um outro Cardoso quem falava. Um outro Cardoso individual que falava para que eu ouvisse.
Foi um momento quase frustrante. A experiência não foi o que eu esperava. Mas então já era tarde.
Eu já havia me conscientizado de minha própria multiplicidade.
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