quarta-feira, 7 de setembro de 2011

conversando em estado óbvio

porque se alguém me perguntar
numa indagação imprevista
como definir o que sai da minha cuca,
eu não sei se me farei,
não sei se saberei,
não sei se falarei,
nem se eu mesmo entenderei.
mas aqui vai o escrito
e o que aqui for fica dito.
eu não escrevo nada de novo,
estou sempre conversando pelos textos.
aprendi com ana cristina césar
a capturar versos alheios pois
todos me pertencem, agora sei.
por isso sou uma camões desconcertado neste mundo
cruzando linhas feito um garrett
em cordéis de amor ao merlânio e ao azulão,
não me furto ao olhar do condor de alves,
devasto minhas terras ao som
de um coro de gatos eliotianos
e sei que sou incapaz de
multiplicar-me como pessoa,
por isso somo múltiplos quartetos cabralinos
educando uma pedra encontrada por aí
e que o carlos já andou esquisitando.
eu desvairo o mário,
atropofagizo o oswald e a patrícia,
eu transo os gitanos cantantes,
yo alabo al chiflado lorca
e me transmudo num parnaso de além túmulo
como um xavier heteronímico
ainda cantando meus ideais,
e não sendo de poemas de amor
vou me contentando com desesperadas canções
com tantas vozes emprestadas,
kaváfis, prados, rochas,
moriconis, carlitos e outros
que nem sei lembrar
mas que fazem parte
de meu grafite
a se repetir a pergunta
sem resposta
(melamed onde está você?)
que regurgito no antro
das linhas que não
paro de riscar em
febre, êxtase e agonia.
é que eu tenho em mim
o dobrar de pobres campanários
vestidos com o branco de cruz
e tangidos pela lira de sousa ou andrade.
há ainda tantos que tem me encontrado
sem que eu encontre
um jeito,
um meio,
um termo,
um dedo de prosa.
queria ser catullo
e da paixão humana
cordelizar o mundo
sem nada dever ao próprio
e pôr um termo a tudo
embora já não saiba
como finalizar
este isto clariceano;
que fique tudo inacabado,
pois me construo dia a verso
passo a passe,
e se nem o ponto certo
será meu ponto final
que fiquem aqui as reticências
...

glaucio cardoso

Um comentário:

  1. Incorporou a verve de Pessoa.

    Olhe lá se você, de repente, não é um heterônimo novo de Fernando Pessoa, de nome Glaucio Cardoso, que ele, Fernando, incorpor no Além.

    Vôte! Desarreda coisaruim!!!

    hahahahaha

    Abração!

    Merlânio

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