quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Resistir não é inútil

     Durante a Segunda Grande Guerra, em diversas nações, uma palavra simbolizou a luta pela liberdade: partisan. Utilizada para denominar o membro de uma tropa irregular formada com o intuito de opôr-se a um governo estrangeiro, esse vocábulo popularizou-se sobremaneira durante aquele que é considerado o maior conflito do século XX e um dos maiores de toda a história. 
     Em vários países houve a resistência, muitas vezes com outros nomes, como os maquis (França), os Piratas de Edelweiss e a Rosa Branca (Alemanha). Vários nomes em torno de um mesmo ideal. Resistir, não se render diante de uma força estranha que busca submeter o espírito humano de forma brutal e violenta.
     Esses movimentos aclamados hoje como heróicos me vieram à lembrança em virtude da onda de violência que varre o Rio de Janeiro por estes dias. Não estou falando da resistência institucionalizada cujos representantes são as forças de segurança pública que, de forma organizada e equilibrada, estão combatendo as ondas de ataque de diversas facções criminosas. Falo de uma resistência muito mais forte. A resistência que vem diretamente do povo.
     Caminhando pelas ruas do Rio de Janeiro hoje pela manhã, era-me possível sentir a tensão no ar, a sensação de expectativa, como se algo pudesse acontecer a qualquer momento. Sim, este sentimento está em todos e seria absurdo se fosse diferente, pois seria um sinal de que nossa indiferença finalmente atingiu níveis inumanos.
     O que me chama a atenção é o fato de que apesar do medo, apesar da tensão, os cariocas estão se negando a ceder a estes mesmos medo e tensão; não estão se rendendo ao sentimento de terror que está sendo inutilmente imposto à sua rotina. Estão todos buscando viver suas vidas e executar suas atividades com normalidade, em um comportamento que muito lembra o dos britânicos durante a Batalha da Inglaterra, quando as forças alemãs fizeram tantos ataques contra a ilha que as ruas viviam repletas de cartuchos das metralhadoras dos aviões.
      Sim, é possível resistir. É possível levar à efeito uma oposição pacífica sem que esta seja passiva.
     Talvez esta resistência dos cariocas não faça surgir nenhum nome de um indivíduo qualquer que se destaque em suas fileiras, como aconteceu com as resistências em vários países. E este é o grande trunfo da resistência carioca. 
     Não somos partisans.
     Não somos maquis.
     Somo apenas humanos.

5 comentários:

  1. Grande reflexão, meu querido Mixquita! Resistir cumprindo as tarefas que o cotidiano exige, sendo nós mesmos, confiantes na Soberana Justiça que provê o necessário em todas as esferas da Criação! Abraço no coração!

    ResponderExcluir
  2. É, meu caro, Satyagraha pode ser um caminho demorado, muito demorado, mas é o mais rápido!
    Clésio Tapety

    ResponderExcluir
  3. Muito bom, companheiro querido,

    O que temos visto é, realmente, aterrorizante, porém o homem pode mais e esse"poder mais" é o que o faz ser homem e filho de Deus. Porque Deus, sempre, pode mais.

    Abraço forte.

    ResponderExcluir
  4. Caro Glaucio..
    Eu sempre fã do seu trabalho, Fã da sua personalidade e uma puxa saco formada.
    Adorei te-lo como professor.
    Desejo-lhe tudo de bom nesse mundo, pois a falta de pessoas como você é que faz o mundo tão como é hoje.
    Terei uma eterna admiração por você.
    Se cuida e até um dias desses no mauá.

    ResponderExcluir