Eu piso com reverência
As lajotas de pedra da calçada.
Observo com encantamento quase ingênuo
Cada um dos móveis da sala.
Ritualisticamente,
Passo meus dedos
No tampo da mesa
Sem pensar que ali,
Naquela tábua,
Foi onde o homem
Comeu seu almoço corriqueiro,
Contou as moedas do magro salário,
Tomou a lição de filhos e netos,
Amargou as horas lacrimosas de desesperança.
Não, tudo em que
Consigo pensar
É no poeta debruçado
Sobre uma folha de papel
A criar para a cabeça dos leitores
Uma vida que nunca teve,
Mas que viveu plenamente.
Glaucio Cardoso
13/04/19