O que ainda faz eco em mim
é o canto de mil senzalas
e o pranto de mil porões.
A poeira que levantei
batendo pés no chão
de todas as tabas
cobre e aquece minha pele,
uma pele sem cor,
sem pátria,
uma pele que se choca
com a diferença
nos olhos que me olham.
Sou negro,
sou indígena,
vermelho de sangue,
vermelho de raiva,
vermelho (às vezes) de vergonha
ou de choro.
O que ainda faz eco em mim
é o silêncio de todos os por quês
sem resposta,
a ausência de todas
as mãos não estendidas
e os soluços sem alento.
Mas também sinto
o ecoar da esperança,
o reverberar das cachoeiras
e os cantos que moram em mim.
Sinto o ecoar do orgulho
de ser quem sou,
de ser quem fui,
ser quem serei.
Sinto que não se cala
a voz que dá voz
às vozes dos que
ousam crer no amanhã.
Sinto ainda ecoar em mim
a certeza de que
sou o som
e o eco.
Glaucio Cardoso
em algum dia do segundo semestre de 2021
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