Quando chegar o tempo
em que a história julgará
o nosso tempo,
não se encontrará meu nome.
Não estará escrito
entre aqueles de rostos
voltados ao chão ou ao umbigo,
nem ao lado de conformistas conformados.
Como o itabirano eterno,
“não serei o poeta
de um mundo caduco”.
Nesse mundo futuro
que não ouso cantar,
meu rosto não aparecerá
nas fotos oficiais
posando com ídolos de pés de barro,
a tecer a falsa narrativa da virtude.
Tampouco serei heroico,
ou patriota de ocasião.
Quando a história olhar para agora,
haverá de me encontrar
entre os resistentes,
debruçado nas barricadas
erguidas contra a ignorância
e a insensatez negacionista.
Meu nome não estará em placas de ruas,
monumentos aos mitos convenientes.
Quando chegar esse tempo,
não verei meu nome
entre os que hoje se julgam inalcançáveis
e se fazem de escolhidos
por um Deus para sempre maculado
por suas ações.
Ainda assim, estarei eterno…
ao lado do povo,
dos oprimidos,
ao lado daqueles que
se deram as mãos e não soltaram.
E sentirei orgulho do nome que usei
e que já terei esquecido,
pois a luta pelo que é
certo, justo, bom e verdadeiro,
pelo que se alinha à ética e ao saber,
essa luta já faz parte de mim,
e continuará em todos os rostos que eu tenha,
em todos os nomes que eu use,
em todos os versos que escreva.
Quando chegar o tempo
em que a história julgará
o nosso tempo,
eu saberei onde me encontrar.
Glaucio Cardoso
14-16/01/22
Belíssimo autorretrato histórico, poeta.
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