domingo, 16 de janeiro de 2022

Veredictum



Quando chegar o tempo

em que a história julgará

o nosso tempo,

não se encontrará meu nome.

Não estará escrito

entre aqueles de rostos

voltados ao chão ou ao umbigo,

nem ao lado de conformistas conformados.

Como o itabirano eterno,

não serei o poeta

de um mundo caduco”.

Nesse mundo futuro

que não ouso cantar,

meu rosto não aparecerá

nas fotos oficiais

posando com ídolos de pés de barro,

a tecer a falsa narrativa da virtude.

Tampouco serei heroico,

ou patriota de ocasião.


Quando a história olhar para agora,

haverá de me encontrar

entre os resistentes,

debruçado nas barricadas

erguidas contra a ignorância

e a insensatez negacionista.

Meu nome não estará em placas de ruas,

monumentos aos mitos convenientes.


Quando chegar esse tempo,

não verei meu nome

entre os que hoje se julgam inalcançáveis

e se fazem de escolhidos

por um Deus para sempre maculado

por suas ações.


Ainda assim, estarei eterno…

ao lado do povo,

dos oprimidos,

ao lado daqueles que

se deram as mãos e não soltaram.

E sentirei orgulho do nome que usei

e que já terei esquecido,

pois a luta pelo que é

certo, justo, bom e verdadeiro,

pelo que se alinha à ética e ao saber,

essa luta já faz parte de mim,

e continuará em todos os rostos que eu tenha,

em todos os nomes que eu use,

em todos os versos que escreva.


Quando chegar o tempo

em que a história julgará

o nosso tempo,

eu saberei onde me encontrar.

Glaucio Cardoso

14-16/01/22

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