Anotações em torno da leitura de
Bill Finger - A história secreta do Cavaleiro das Trevas
É inegável
o impacto que os heróis dos quadrinhos exercem em nossa cultura. Muito antes de
lotarem as salas de cinema, os personagens mascarados, com suas roupas
colantes, poderes e habilidades sobre-humanas já faziam parte de nosso
imaginário cotidiano, com aventuras de tirar o fôlego, seja pelo vertiginoso de
suas ações, seja pela profundidade e complexidade de algumas tramas.
Entretanto,
estes heróis surgem das cabeças e mãos de homens que, apesar da aparência, estão
longe de ser comuns. Homens cujas vidas podem ser tão ou mais incríveis que as
aventuras imaginárias em que seus personagens enfrentam a injustiça. A vida
real também tem seus heróis e, infelizmente, seus vilões.
Bill Finger – A história secreta do
Cavaleiro das Trevas (Skript Editora: 2019) lança um pouco de luz
sobre a vida de um dos responsáveis pela criação do (possivelmente) mais
popular dentre os heróis dos quadrinhos: o Batman!
Eu já
tinha ouvido falar no biografado nos idos dos anos 90, mais precisamente no
prefácio do Superalmanaque DC, nº 01,
que eu, então com pouco mais de 13 anos, li com os olhos vidrados da empolgação
que só conhecemos realmente quando temos em mãos algo que queremos muito (foi
necessário economizar o dinheiro do lanche da escola por quase uma semana para
que pudesse comprar aquela edição de quase 300 páginas).
Com
o passar dos anos, o nome de Finger foi sendo cada vez mais lembrado pelos
pesquisadores da história dos quadrinhos, até ser reconhecido como o real gênio
por trás dos principais elementos que viriam a compor o Homem Morcego.
Nesta
biografia em quadrinhos de Diego Moreau & Douglas Freitas (Roteiro), Sandro
Zambi (Arte e letras) e Ítalo da Silva Bispo (Cores) temos talvez o mais digno
dos esforços para conferir ao biografado o merecido reconhecimento.
Mais
do que um trabalho documental, o livro apresenta uma história potente e emocionante,
conseguindo a combinação perfeita (e dificilmente alcançada) entre relato
histórico e narrativa dramática.
Finger
nos é mostrado como sendo um leitor voraz, um admirador das artes, um cinéfilo,
escritor, homem de cultura rica que se manifesta numa criatividade
aparentemente inesgotável.
O processo criativo que levou à criação do Batman,
partindo das ideias iniciais (e simplórias) de Bob Kane (que acabaria levando todos
os créditos), é apresentado com um dinamismo de imagens que nos remete à
linguagem cinematográfica sem perder a qualidade do literário, um
efeito que só
é possível em [bons] quadrinhos.
Mas se
engana quem pensar que a obra ficará restrita a Finger, Kane e Batman. Vemos um
verdadeiro retrato dos EUA no século XX, com suas crises e guerras, a
discriminação sofrida pelos judeus, a história da ascensão dos quadrinhos, sua
perseguição por grupos conservadores que os viam como responsáveis pela
corrupção da juventude (um pensamento tacanha que ainda ecoa hoje), o
surgimento de grandes nomes da indústria, tudo isso se abrindo em múltiplas
camadas textuais que nos levam a um novo olhar sobre aquela que foi chamada por
Will Eisner de “Arte Sequencial” e que hoje é também conhecida como “Nona Arte”.
Repleto
de homenagens e referências visuais, Bill
Finger – A história secreta do Cavaleiro das Trevas é um livro belo,
triste, divertido, poético, emocionante e necessário.
OBS: O livro pode ser adquirido clicando AQUI.
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