No
tempo em que eu era velho
olhava
meu país com desprezo;
pensava
no passado dos outros
enaltecidos
por grandes nomes
e
julgava menos a minha própria história:
povos
antigos nos legaram mitos fantásticos
dos
quais eu desejava ter sido herdeiro,
ter
dançado com a lira de Apolo,
me
embriagado nas festas de Baco,
ter
visto o martelo de Thor cruzar os ares,
ter
galhofado com Loki.
Queria
a filosofia
dos
sábios que andaram na terra.
Queria
as honras, as glórias,
das
batalhas de céus e mares.
Depois,
quando me fiz moço adulto,
vi
meu país me chegando
na
tela colorida do aparelho
que
ganhava ainda mais cor
pela
nossa multiplicidade.
E
foi então que me apercebi
como
um Cabral tardio
descobrindo
uma nova nação,
cheia
de brilhos, de vida,
com
cantos encantadores,
com
tantas vozes e letras
que
me fez ter entendimento
de
que somos muitos num só
e
que temos de herança
o
tesouro do mundo todo
e
que enquanto os demais louvam
valorosos
guerreiros das armas,
aqui
podemos cantar sem pejo
os
lutadores da fé e da paz.
Temos
sábios sem fama
com
valor sem igual:
Dulces,
Anchietas, Damiões,
Xavieres,
Câmaras, Joaquins e Josés,
e
tantos ainda anônimos
que
espalham e espelham alegria e amor.
Foi
daí que me tornei menino,
pleno
de maturidade,
e
vou saindo pelas estradas,
vou
pisando na minha terra,
vou
provando do meu chão,
abraçar
esse meu povo
sem
preconceito,
sem
medo,
sem
vergonha
e
sentir o aroma doce
dos
cerrados,
das
caatingas,
das
atlânticas,
das
chapadas,
misturar
o meu trabalho
que
me escorre pela pele
com
a música que transpiro.
Haverá
quem se ria de mim
e
me julgue ingênuo ufano,
a
estes eu digo e afirmo
que
não fecho os olhos
pras
mazelas dos desmazelados,
nem
sou surdo aos protestos
que
se erguem contra os que
corrompem
no sagrado ofício do
apontamento
dos rumos dessa nação.
Eu
sei de tudo isso,
eu
sofro o mesmo sofrer
de
meus irmãos de chão,
mas
eu digo, seu moço,
que
não é pelo que vai mal
que
deixo ou deixarei de amar esse torrão,
e
que não é o defeito presente que me encanta.
O
que me empolga, seu moço,
é
a árvore na semente,
é
o fruto futuro,
é
o sonho que se faz
a
cada dia
desse
país,
minha
casa,
minha
terra,
meu
tesouro,
minha
emoção.
Glaucio Cardoso
2012
Beleza de retrato. d:-))
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