A poesia tem sido uma das principais
formas de expressão da Literatura. Em todos os tempos, em toda parte, em
qualquer cultura, lá está a expressão poética.
Passam-se as eras e o interesse por tal
matéria permanece vivo. Mesmo na atualidade, nessa época de Internet e
tecnologia, vemos como o ser humano ainda se volta para os versos e as imagens
poéticas. Exemplo disso é a enormidade de sites, blogs, comunidades virtuais
que se multiplicam na rede. Sem esquecer dos eventos literários que têm se
tornado mais e mais comuns (felizmente) nas grandes e pequenas cidades.
Mas afinal de contas, por que tanto
interesse em algo [aparentemente] tão comum? Vejamos a palavra do crítico e
professor Ítalo Moriconi:
Para a tribo dos leitores, a
poesia traz sobretudo promessa de prazer. É
gostoso ler poesia. Para alguns, é até mais gostoso que ler romance. Por
certo, é mais gostoso que filosofia. Poesia respira, joga com pausas, alterna
silêncios e frases (os versos).
Poesia é bonito na página, é festa tipográfica. Festa para os olhos. Ritmo
visual que vira sonoro, quando lemos o poema em voz alta. Imaginação e sabedoria combinadas numa certa vertigem, a velocidade
das estrofes. Linguagem concentrada que, no entanto, pode distender-se,
estender-se. Todos os cinco sentidos
traduzidos, por meio da palavra, em coisa mental. Coisa mental que se pode
comunicar pela fala, guardar na página ou na memória, que nem talismã.*
(grifos meus)
Acredito
que o que o eminente professor procura demonstrar é, em outras palavras, que o
ser humano sente verdadeira necessidade da poesia. E que a poesia, por sua vez,
tem a facilidade de arrebatar aqueles que se predispõem a parar um pouco e
lê-la ou escutá-la.
Vai aqui
um depoimento pessoal: eu tinha meus 8 anos de idade quando fui a um evento
filantrópico com meus pais. Não me lembro direito do que foi mostrado naquele
encontro, mas me lembro de um senhor moreno, cabelos grisalhos e jeito simples
ser chamado ao tablado (havia algumas mostras artísticas); ele cumprimentou o
público, agradeceu a presença de todos e começou a falar de uma forma que u
nunca tinha visto antes. As palavras saíam de sua boca num ritmo que parecia
música, mas não havia nenhum instrumento musical sendo tocado, seguindo numa cadência
encantadora.
Eu estava
deslumbrado! Aquilo que eu ouvia me despertara da sonolência natural em uma
criança de 8 anos que vai a um evento para adultos. As palavras fluíam e eu me
sentia arrastado pelas águas bravias e ao mesmo tempo aconchegantes de um rio
que parecia correr pelos meus ouvidos e que logo me envolvia por inteiro. Nem
percebi quando acabou e me lembro de ter ficado com as mãos doendo de tanto
aplaudir àquele senhor que depois se sentou e ficou muito quietinho. Ele
voltara para seu lugar, mas eu ainda o olhava de longe, espantado...
No caminho
de volta, lembro de ter tido uma conversa com meu pai que foi mais ou menos
assim:
– Pai, o que era aquilo que aquele moço tava
falando lá no palquinho?
– Aquilo,
meu filho, se chama poesia. Ele estava declamando poesia.
Nesse dia
nasceu uma paixão em mim: pela poesia! Uma paixão que se estendeu ao poeta que
conheci naquele dia, João Prado. Uma paixão que me acompanhou pela infância e
adolescência e que foi fundamental na escolha de minha profissão. Paixão que
procuro transmitir aos meus alunos no dia a dia da sala de aula.
Acredito
que a poesia e os poetas são detentores dessa capacidade de despertar a paixão
nas pessoas. O gosto e o amor pela vida. O encantamento pela existência e por
tudo o que existe no mundo.
Eu sei que
existem aqueles poetas que traduzem em versos as angústias humanas, mas mesmo
esses acabam por legar aos leitores páginas ricas de paixão poética.
Não temos
como prever que tipo de poesia teremos daqui para adiante, mas acho pouco
provável que a poesia deixe de existir e de encantar os homens. Afinal, o ser
humano tem necessidade de paixão.
MORICONI, Ítalo.
Como e por que ler a poesia brasileira do
século XX. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
Excelente apologia da poesia. Sempre afiadíssimo com as palavras, esse meu amigo Gláucio. Tomo a liberdade de contribuir singelamente com a defesa de algo tão nobre. Meu argumento é: para além de todos os bens que a poesia possa trazer para o nosso espírito, nenhum deles pode ofuscar este: a poesia. Ela é um fim em si mesmo, ainda que possa transbordar para outros fins particulares, pois, ainda que a poesia nos desse apenas a si mesma, tal doação já seria suficiente para justificar sua sublime existência.
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