Escondem coisas que nem sei se são reais.
Da minha varanda eu vejo,
A meio caminho do topo,
Uma casinha que sei
Há muito inabitada.
Tenho dúvidas se ela está
Realmente vazia,
Pois não serão poucas as lembranças
Nem raros os fantasmas que a ocupam.
Religiosos insistem
Em chamar a mais próxima de monte,
Querendo com isso
Dar-lhe um sentido talvez bíblico
Que compense o distanciamento
Existente entre os cristãos
E a vivência do Cristo.
Sei que em algum lugar
Por entre as montanhas da minha terra
Existe uma cachoeira
Onde os deuses de meus ancestrais
Encontram repouso.
Sei também, que lá existem
As ruínas de uma senzala,
Onde tantos dos meus avós
Clamaram em dor e desespero
E onde hoje só habita o silêncio.
Mas o que mais se oculta ali
É o vulcão adormecido
Que dá nome à serra de minha terra.
Quem sabe, ele não esteja esperando
Que nós, habitantes do pé da montanha,
Entremos em uma erupção
Que sacuda os falsos alicerces
Nos quais tanto nos acomodamos.
Quem sabe, um dia,
O vulcão concluirá
Que já esperou demais.
Glaucio Cardoso
17/10/2019 – 1h21m
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