sábado, 13 de maio de 2017

Palavras de um Preto Velho


“Sua benção, Vovô!”,
Eu pedi me ajoelhando,
Já não aguento mais
Viver penando
E descanso não ter jamais.”

“Trago o coração amargurado,
Revoltei-me contra Deus,
Mas me lanço aos vossos pés
Buscando os conselhos teus
Pra fugir do meu revés.”

Da fumaça de seu cachimbo
O velho soltou uma baforada,
No chão riscou um sinal
E falou com a face iluminada
De sabedoria ancestral:

“Fio, nêgo véio sabe é nada
Pra se fazê de aconselhado,
Mas divido com fio meu
O que a vida ensino
E esse véio não esqueceu.”

“O hômi vive agastado,
O tempo querendo mudar
Pelos caprichos seus
Sem parar pra atentar
Que o tempo é presente de Deus.”

“Fio, quando chega o inverno
E a dor abate o hômi
Quer encurtar o momento
Sem vê que dor que o consome
É que faz seu crescimento.”

“Quando a flores surgem
Enfeitando o seu caminho,
Do dia de amanhã se esquece,
Não lembra que tudo fenece
E que até as rosa tem espinho.”

“Fio, deixe de reclamação,
Não dê guarida pra tristeza
E não alimenta o desengano,
Pois tudo é certo na natureza
E obedece ao divino plano.”

“fio, óia a sabedoria do Pai:
Te deu dois zóio e duas mão,
Dois ouvido e uma boca só.
É tudo parte da criação
Pra evoluir e desatar os nó!”

Tem dois zóio pra enxergar,
Pra vê do mundo as beleza
E podê cantar de louvor,
Mas usa a boca pra espaiá tristeza
E esquece de pregar o amor.”

“fio, nas resmunga com essa boca,
Que ocê tem os ouvido
Pras estrela escuitá
E alevantá os caído
Que vive a suplicá.”

“Fio, quando pensar em pragueja,
Lembra dos estropiado
E ao invés de erva daninha
Lança mão no roçado
Prantando fruta e frôzinha!”

Enxuguei então minhas lágrimas
E vi essa grande verdade:
Que é preciso viver o Evangelho
Com humildade e simplicidade
E a sabedoria de um Preto Velho!


Glaucio Cardoso
12/05/17


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