Inspirado em uma
história real
O
palhaço entrou na igreja
E
foi devagarinho se achegando,
E
depois de um “amém” e um “assim seja”
Pôs-se
a admirar tão pouca gente ali rezado.
É
de se explicar a situação:
Era
uma bela manhã domingueira
E
o templo botava gente pelo ladrão,
Pra
ouvir a missa costumeira.
Uma
dona com a outra fofocava,
E
falava sobre a vida da vizinha,
Um
sujeito num papelzinho rabiscava
Os
versículos pra no bicho fazer sua fezinha.
Um
outro, boa pinta, com ar galanteador
Piscava
pra morena de fina cintura
E
ela, com a saia curta feito um babador,
Nem
dava ouvidos pro que diz a escritura.
O
palhaço ouviu um rugido lá no fundo,
Como
se a terra fosse logo se abrir!
Mas
não foi prenúncio do fim do mundo,
Só
um fiel que aproveitava pra dormir.
De
repente foi uma correria louca,
Do
povo se espremendo pra comungar,
E
vindo com a hóstia na boca
Como
se fosse goma de mascar.
E
o padre terminou a pregação
Exortando
os ouvintes seus
Com
as palavras do homem chamado João:
“Alegrai-vos,
que é chegado o Reino de Deus!”
O
seu assunto era a alegria,
E
era toda a sua vocação,
O
circo sempre fora sua sacristia
E
o riso sua forma de oração.
Querendo
também louvar o Senhor,
Levando
um sorriso aos seus irmãos,
Deu
uma pirueta com fervor,
Um
salto mortal sem usar as mãos.
Aterrissou
no altar com um só pé,
Deixando-se
cair com grande alarido,
Era
para ele sua demonstração de fé
Com
sinceridade ao Mestre querido.
Mas
pobre do meu palhaço!
Ninguém
quis saber do seu encanto!
E
o sacristão tomou-lhe pelo braço
E
o botou sentado lá num canto.
Triste,
cabisbaixo e envergonhado,
Viu
as pessoas o encararem com desgosto,
E
ali, sem entender o que fez de errado,
Sentiu
uma lágrima rolando pelo rosto.
E
a igreja foi se esvaziando,
Gente
apressada, empurra-empurra,
E
muito pouca gente foi ficando
A
pensar na mensagem da escritura.
E
o palhaço pensativo murmurava,
Se
era pecado ter sua fé na alegria,
Pois
se a ele a sociedade censurava,
Por
que não combater a hipocrisia?
De
repente, com o templo esvaziado,
Uma
risada solta, cristalina, ecoou,
Despertando
o palhaço acabrunhado,
E
entre risos para ele assim falou:
“Meu
palhaço, não fiques desanimado,
Mantém
a fé e do riso faz constância
Pra
libertar esse mundo acorrentado
Na
treva triste da ignorância.
És
um servidor bom e fiel,
Para
quem os santos dizem seu amém,
No
picadeiro da vida brilha o teu laurel,
Pois
a alegria é missão no bem.
Reforça
a tua fé em Deus
E
espalha com tua máscara a luz,
Sabendo
que com cada um dos gestos teus
Você
me libertou daquela cruz!
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