quinta-feira, 22 de março de 2012

Feijão cozido pra plantar

Em uma pequena cidade muito distante daqui, havia um menino filho de um vendedor de bilhetes de loteria. Sua mãe morreu quando ele nasceu. O pai era tudo para o filho. O filho era tudo para o pai.
Quando não estava na escolinha, o menino ficava com o pai, vendo-o vender seus bilhetes de loteria e ouvindo as coisas que ele dizia. O pai não tinha muito estudo, mas era muito religioso e ensinava pro filho muitas coisas que sabia pela experiência da vida. Por exemplo, quando o filho perguntou por que não compravam também um bilhete de loteria pra ver se vinha a sorte grande o pai respondeu:
– A sorte, meu filho, não vem sem o trabalho e o esforço da pessoa.
– Mas pai – retrucou o filho – logo o senhor que vende esses bilhetes não acredita em sorte? É por isso que algumas pessoas dizem que o senhor é um bobo.
– As pessoas dizem muitas coisas, filho, mas escute o que seu pai está dizendo: as coisas não são totalmente do jeito que dizem e nada é sempre aquilo que parece ser.
O menino não entendeu direito na hora, mas também não se esqueceu das palavras do pai.
 Todos os domingos o menino ajudava na missa da Igreja, era coroinha. Sempre no final das missas o padre lhe dizia: “Lembre-se de acender uma vela no altar antes de ir embora para se lembrar de que Deus é bom!”
O menino obedecia, mas ao passar pela caixa de velas pegava sempre duas ao invés de uma. Ia até o altar e acendia a primeira vela pensando: “Deus é bom!”. Depois ia até os fundos da igreja, escondido de todos, e, lembrando das palavras do pai, acendia a segunda vela pensando: “O Diabo não é tão mal!”. Foi assim por vários e vários anos.
Quando o menino já era um jovem rapaz, seu pai morreu e ele ficou só. Resolveu então sair de sua cidade, pois percebeu que ali não haveria grandes oportunidades de crescimento para ele.
– Vou tentar a vida na capital. – pensou – Afinal, eu não tenho família mesmo, nada me prende aqui. Disposição para o trabalho não me falta.
E assim fez.
Juntou seus poucos pertences em uma mochila, despediu-se dos amigos e partiu, não sem antes passar na Igreja e acender duas velas.
Para chegar à capital era preciso pegar um ônibus que só saía da cidade vizinha e que ficava a uma boa distância da sua. Resolveu ir andando para economizar dinheiro e tentaria pegar o último ônibus daquele mesmo dia. Mas a sensação de estar saindo da terra em que cresceu fazia-o demorar-se mais um tanto a contemplar as ruas, as casas, as pessoas, a praça da matriz, tudo parecia já impregnado de uma saudade antecipada.
Tanto ele demorou que a noite chegou e o encontrou ainda a meio caminho da próxima cidade. Escurecia rápido, e já ia ficando difícil enxergar a estrada por onde deveria seguir. Percebendo que não chegaria a tempo de pegar o último ônibus começou a pensar em dormir pela estrada mesmo, talvez debaixo de alguma árvore. Neste momento viu a luz de um lampião na janela de uma casa simples. Resolveu pedir pousada ali.
Bateu palmas do lado de fora do portão de madeira e foi atendido por uma moça que parecia ser um pouco mais velha que ele.
– Boa noite, senhora!
– Boa noite, rapaz. O que você deseja?
O rapaz explicou quem era, de onde vinha, para onde ia e o que precisava. A dona da casa deixou que ele dormisse na rede que havia na varanda. Neste momento o rapaz percebeu que sentia fome, não comera nada desde a hora em que partira, pois pensava em lanchar ao chegar na cidade vizinha; seria muito complicado passar a noite com fome e ainda ter de caminhar tanto no dia seguinte.
– Senhora, desculpe-me incomodá-la ainda mais, mas a senhora teria algo para eu comer? Há horas que caminho e não me alimento.
– Aqui é casa de gente pobre. – disse ela – Tudo o que tenho sobrando são quatro ovos cozidos. Faremos o seguinte: dois pra você e dois pra mim; comeremos dois agora e dois amanhã no desjejum.
E assim foi. Dormiu um sono tranqüilo, povoado de sonhos sobre o que encontraria na capital. Via-se grande, via-se rico, via-se feliz e admirado por todos. Na manhã seguinte, agradeceu à generosidade da dona e seguiu seu caminho. Na tarde daquele mesmo dia chegou à capital.
Não demorou muito para conseguir seu primeiro emprego, como aprendiz de padeiro. Em pouco tempo já dominava todas as técnicas de preparo do pão, desde a escolha da farinha até a temperatura ideal do forno. Mas isso não bastava para ele, que estava sempre atento aos anúncios de empregos, buscando algo melhor. Desse jeito passou por diversos trabalhos, sempre se esforçando, sempre aprendendo coisas novas.
O mais interessante é que tudo o que ele aprendia, por mais novo e diferente que fosse, conseguia fazer melhor do que quem lhe havia ensinado. Todos comentavam da sua capacidade de aprendizado, criatividade e da vontade com que se lançava ao trabalho.
Muitos anos se passaram. Aquele rapaz era agora um senhor. Ele conseguira tudo o que sempre desejara. Era rico, dono de uma grande empresa de construção civil, conhecido como um dos mais bem sucedidos empresários do país e já lançando sua empresa no mercado internacional.
Então ele sentiu que era hora de voltar, rever sua terra natal pela primeira vez desde que partira. Quem sabe não poderia fazer algo pela cidade?
E assim fez...
Chegou em seu carro novinho em folha e estacionou bem em frente à praça da Matriz. A cidade mudara pouco, mas mudara. Algumas ruas ainda não tinham pavimento, o que ele notou já pensando no que poderia fazer pela cidade, havia mais duas escolas, algum comércio com artigos vindos da capital, e até mesmo um fórum, no qual (ele saberia depois) julgavam-se casos como inventários, roubos de galinhas e coisas do tipo.
Logo que as pessoas de antigamente o reconheceram houve grande alvoroço na cidade. Todos queriam rever o filho do bilheteiro, que havia saído dali há tantos anos e agora retornava “enricado”.
Aquele foi um dia dos mais felizes para ele, reencontrando tantas pessoas cujos rostos haviam envelhecido tornando-os completamente desconhecidos para ele que em nenhum momento os sentiu ou tratou como estranhos.
Em dado momento ele lembrou-se da noite que passara na casa daquela jovem senhora há muitos anos e da refeição que esta lhe cedera. Como era homem justo resolveu ir até lá agradecer-lhe novamente e, se possível, retribuir o favor que esta lhe prestara.
Passou pela mesma estradinha de terra de anos atrás, desta vez ia de carro, relembrando lugares e paisagens. Ao longe divisou a casinha de outros tempos. Parou em frente ao portão de madeira e viu na varanda a mesma senhora, parecia até que o esperava.
Ela o recebeu, ele se identificou. Conversaram. Ela perguntou-lhe das andanças e viagens. Ele sentiu que alguma coisa estava estranha, mas não se preocupou muito.
O que ele não sabia é que aquela mulher que o ajudara sempre fora uma grande ambiciosa e, já tendo ouvido falar de seu retorno e de como ele estava bem de vida, a ganância se aguçou e ela achou que poderia tirar alguma vantagem daquele rapaz transformado em senhor.
– Minha cara senhora – ele disse em certo momento – aprendi cedo que devemos ser justos para com todos e gratos para com aqueles que nos estenderam as mãos. Eu gostaria de saber se posso ajudá-la em algo como forma de pagamento pela ajuda que me deu.
Lá fora ressoou um trovão à distância. Uma tempestade se aproximava.
– Ora, bem – disse ela com um sorriso íntimo – o senhor há de entender q ue sempre fui pessoa pobre, vivendo apenas de umas poucas galinhas que tenho e plantando minha própria comida. Estudei um pouco e sempre fui ótima aluna, principalmente de matemática. – disse com os olhos fixos no visitante.
– Os dois ovos que lhe dei – continuou a dona – poderiam ter sido chocados e me dariam pintos; se fossem ambos os filhotes fêmeas estas se tornariam galinhas, que colocariam um ovo por dia, num total de 14 ovos por semana, se eu comesse a metade e chocasse a outra seriam mais 7 filhotes, que colocariam ovos, de onde nasceriam pintos...
E continuou assim, num cálculo longo que parecia não ter fim, estabelecendo valores para os ovos, os pintos, os frangos, as galinhas e os galos durante anos e anos, até que chegou finalmente a um valor alto, aliás, altíssimo.
– Mas minha senhora – retrucou o homem assombrado – este valor é exatamente todo o meu patrimônio!
A mulher sorriu, sentindo-se vitoriosa por ter atingido muito mais do que pensara ser capaz e respondeu:
– Foi o senhor quem veio à minha porta perguntar quanto me devia. Agora é isto o que eu quero. EU QUERO MEU DINHEIRO!
O homem ainda tentou argumentar, chamá-la à razão, mas ela estava irredutível e prometeu ir à justiça para receber o que lhe era de direito. Se assim o disse assim o fez. Antes do fim da semana o homem já recebera uma intimação judicial. A ambiciosa contratara um advogado e o processo estava instaurado.
O homem, empresário que era, procurou seus advogados. Lendo os autos da parte queixosa todos eram unânimes: ela iria ganhar o processo! Estava certa mesmo que errada. Não havia nada que se pudesse fazer.
– Não é possível! – disse o empresário.
– Infelizmente é esta a verdade: tudo o que o senhor tem passará a pertencer a ela!
Desesperado, o homem começou a buscar conselhos dos melhores advogados do país, mas nenhum deles aceitou o cargo por considerá-lo uma causa perdida. Até mesmo os advogados da empresa haviam se demitido por não terem como defender a causa que sabiam invencível.
Enquanto isso, a mulher ambiciosa já tinha ido à imprensa. Os jornais de todo o país e até alguns do estrangeiro davam destaque ao caso da mulher que ficaria rica graças a dois ovos. A cidadezinha estava completamente diferente, cheia de repórteres e curiosos que vinham para acompanhar o julgamento no pequeno fórum municipal.
A mulher também estava muito mudada; já pensando em toda a fortuna que ganharia, fez diversas compras em lojas chiques; vestidos, sapatos, jóias, tudo aquilo que sempre invejara nas modelos de revistas estava agora ao seu dispor graças à notoriedade que viera com o processo, chegara mesmo a comprar uma casa nova; obter crédito não era problema: todos sabiam que ela receberia a fortuna e poderia comprar muito mais.
Na véspera do julgamento final, o empresário ainda não tinha nenhum advogado disposto a defendê-lo. O juiz não iria repetir o gesto da semana anterior quando, por simples impulso de solidariedade, concedeu-lhe mais sete dias para conseguir um advogado. Não, aquela fora a última chance que lhe dera.
Sentado na Praça da Matriz de sua antiga cidade ele relembrava a vida que levara junto do pai, de sua morte, de todos os sacrifícios que fizera para chegar até ali. E a partir do dia seguinte tudo estaria perdido. Será que conseguiria reconquistar tudo novamente? É certo que continuava bem disposto para o trabalho, mas agora o tempo também estava contra ele, a idade pesava-lhe nos ombros.
Tão perdido em seus pensamentos estava que nem notou a aproximação do sujeito que vinha em sua direção. Só deu por ele parado à sua frente quando este lhe perguntou com um cigarro entre os dedos:
– O amigo tem fogo?
Surpreso com a chegada do desconhecido vestido de forma simples, trazendo à cabeça um grande chapéu cujas abas se curvavam para cima que o olhava de maneira penetrante.
– Desculpe-me, mas eu não fumo. – disse o homem.
– Uma decisão inteligente. – respondeu o desconhecido sentando e colocando o cigarro apagado no canto da boca – Também acho que deveria parar. – e virando-se para o homem – Ainda que mal lhe pergunte, o amigo sabe me dizer que furdunço é esse nessa cidade que ta agitada que parece até que vem inundação?
O homem soltou um suspiro de quem não estava pra muita conversa. No entanto o desconhecido causava-lhe certa simpatia e afinal estava sendo educado. “É mais um para quem contarei minha história, que diferença faz?”. E narrou o fato que o levara aos tribunais e à iminente perda de tudo o que havia conquistado em anos e anos de muito trabalho e esforço. Quando terminou impressionou-lhe o fato de o desconhecido abrir-se em um sorriso divertido.
– Ora, mas este caso é tão simples! – disse o estranho – Me admira nenhum advogado aceitar uma causa ganha como esta.
O homem não acabava de acredita no que ouvia.
– A que horas é o julgamento final? – perguntou o desconhecido.
– Amanhã ao meio dia...
– Pois então eu o defenderei. Sou advogado e garanto que não há como perdermos a demanda.
– Mas como assim? O senhor é advogado? – perguntou o homem – Vai mesmo me defender?
– Claro! Pode me esperar que amanhã estarei no fórum.
– Mas o senhor precisa ler os autos do processo...
– Não é necessário. – interrompeu o estranho – O que me contou já é suficiente. Agora se me dá licença – levantou-se – vou cuidar de uns assuntos. Até amanhã.
E partiu. O homem não acreditava na maneira singular como conseguir um advogado no último momento. Ficou algum tempo tentando entender o que se passara quando notou que se esquecera de perguntar o nome de “seu advogado”. Mesmo assim confiou que aquele homem o defenderia no dia seguinte.
A noite foi das mais angustiantes de toda sua vida. Nem mesmo no tempo em que só tinha o duro assoalho de uma caminhonete para dormir passou por um sono tão incômodo. Impressões do passado vinham atiçar-lhe o medo da derrota. Visões do futuro próximo tiravam-lhe completamente a paz. A manhã o encontrou entre um pesadelo e um sobressalto.
Levantar. Lavar-se. Banhar-se. Fazer a barba. As ações mais rotineiras pareciam agora um fardo pesado. Recusou a leitura dos jornais da manhã por saber que estaria nas manchetes. Alimentou-se pouco e mal.
E esperou...
Às 11 horas chegou ao fórum já tomado de pequena multidão que crescia. Chegara com uma hora de antecedência a fim de esperar o advogado para poder conversar ainda um pouco sobre o inquérito.
11:45 da manhã. “Onde estará esse advogado? Será que se esqueceu? Será que desistiu de mim?” – ele pensava num instante para logo depois dizer para si mesmo – “Não, ele deve estar em outro compromisso, talvez cuidando de uma partilha ou um roubo de galinha e já estará aqui. Poderá pedir alguns minutos ao juiz e tudo se resolverá”.
Ao meio dia, na sala de julgamento apinhada de pessoas da comunidade e da imprensa, o juiz entrou e sentou-se. Após declarar a sessão iniciada voltou-se para o acusado e perguntou por seu advogado.
– Excelência, – disse o homem – peço-lhe mais alguns minutos, pois ele não deve demorar-se.
– Concedo quinze minutos de tolerância como é de praxe. – respondeu o juiz visivelmente contrariado e retirou-se.
Quando este prazo se esgotou o juiz retornou e viu que o advogado ainda não havia chegado. Atendendo ao pedido mudo do acusado concedeu mais quinze minutos de espera. Esse tempo também se esgotou sem que o advogado se apresentasse.
– O senhor tem realmente um advogado? – Perguntou o juiz.
– Sim, Meritíssimo. Não sei o que pode estar atrasando-o, mas tenho certeza que ele chegará.
Procurando parecer magnânimo aos olhos da comunidade (e principalmente da imprensa) o juiz resolveu conceder outros quinze minutos, “Os últimos!”, acrescentou antes de se ausentar.
“Maldito seja!” – pensou o homem – “Provavelmente estava me gozando; mais culpado fui eu em acreditar em um completo desconhecido só por que estou em desespero.”
Do outro lado da sala aquela mulher que antes fora sua samaritana e agora era a sua perdição sorria para as câmeras, fazia caras e bocas e poses para jornalistas e curiosos. Nem parecia a mesma pessoa com tantas pulseiras reluzentes e tamanha a quantidade de cores que havia aplicado ao rosto.
Quando a porta do gabinete se abriu para dar passagem ao retorno do juiz ele teve a certeza de que era o fim. “Estou acabado”, pensou, os olhos rasos d’água, as mãos trêmulas e um incontrolável desconforto na boca do estômago. Fechou os olhos e murmurou: “Desculpe, pai!”.
O juiz o olhou naquela situação e não conseguiu refrear um sentimento de piedade, mas a lei precisava ser seguida. Perguntou pela quarta vez quanto ao advogado do acusado.
Antes que terminasse a pergunta ouviram-se os sons dos cascos de um cavalo que, correndo, abriu caminho pela multidão que cercava o fórum e parou praticamente na porta do mesmo. Olhando para trás o homem viu, entre aliviado e raivoso, o desconhecido da véspera que pulava do cavalo e adentrava correndo a pequena sala.
– Com licença, Excelência! Advogado do acusado! Estou presente! – disse o desconhecido enxugando a testa por debaixo da aba de seu chapéu curvado.
– Meu caro senhor advogado! – disse o juiz em um tom indignado – A sessão estava marcada para meio dia e o senhor me chega com 45 minutos de atraso?!
Sem nem ao menos sentar-se o recém chegado explicou-se:
– Minhas desculpas, Meritíssimo. Atrasei-me porque estava cozinhando feijão para plantar.
– O senhor está brincando com este tribunal? – explodiu o juiz – Desde quando feijão cozido brota?
– E desde quando ovo cozido dá pinto? Foi isso o que ela deu ao meu cliente!
Foi como se um trovão explodisse no centro da sala. Por alguns segundos todos ficaram em silêncio, espantados com o fato de nunca terem se dado conta desta verdade: ovos cozidos não podem ser chocados! O argumento era perfeito e lógico! Aquele advogado com apenas algumas poucas palavras conseguira o que todos julgavam impossível!
Recuperando-se do choque, o juiz não teve dúvidas em atestar a inocência do acusado e declarar o caso encerrado. Os aplausos explodiram, as pessoas correram a parabenizar o empresário que totalmente aturdido dava as mãos a todos sem nem mesmo saber a quem. No meio da multidão ele viu seu advogado retirando-se com certa dificuldade, mas sem ser notado.
Disposto a agradecer-lhe pôs-se a atravessar a sala de maneira tão impetuosa que nem notou o desespero da mulher que se tornava agora motivo de risos e alvo de dívidas completamente insolúveis. Chegou até o advogado no momento em que este já segurava seu cavalo pelas rédeas e se dispunha a sair.
– Meu caro amigo! – disse fazendo-o voltar-se – O senhor acabou de salvar tudo o que construí, posso até mesmo dizer que salvou minha própria vida. Terás minha gratidão eterna, bem como minha amizade, coisas que não podem ser calculadas em termos de números e valores. Agora é preciso que eu pague seus honorários, que serão justos e merecidos. Portanto me diga quanto eu lhe devo?
O singular advogado olhou-o fixamente nos olhos e disse:
– O senhor não me deve nada! Na verdade você já me pagou o justo valor.
– Como assim meu caro? Não me lembro de ter-lhe pago em nenhum momento, afinal esta é apenas a segunda vez que nos vemos.
Com um sorriso nos lábios o desconhecido respondeu:
– Claro que o senhor já me pagou. O senhor por acaso se lembra de quando era criança e seu pai o fez tornar-se coroinha?
– Sim. – respondeu o homem.
– Pois bem, você estava certo: eu não sou tão mal quanto dizem...


F I M[i]


[i] Essa história costumava me ser contada pelo meu pai, Nivaldo de Oliveira Cardoso, segundo o qual já a ouvira de sua mãe, Elza de Oliveira Cardoso.

Um comentário:

  1. aaaaah lembro quando voce me contou isso!
    pela primeira vez alguém conseguiu me fazer ficar calada ouvindo uma história! parabéns! haha

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