quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Outra história

Num monte sem oliveiras
Com os joelhos colados ao solo,
Os pensamentos voltados ao alto,
O olhar lançado para si,
Um ser orava em silêncio.
Fora-lhe dito que uma nova lida,
Um novo corpo lhe seria dado,
Uma nova chance de crescer.
Em sua muda prece
Lembrava o pretérito de esperanças
E de todas as vezes em que caíra;
Ele já fora figura magnífica,
Arrancara aplausos, despertara inveja,
E em sua vaidade desmedida
Corrompera o divino ofício,
Manchara o mundo com seu orgulho,
Abatera os outros com seu egoísmo.
Em várias idas e vidas
Na platéia-humanidade
Manteve seus ouvidos fechados
Às eternas verdades.
Depois de muito penar,
De sofrer e de chorar,
Arrependido e consternado
Buscou o Altíssimo
Com a sinceridade em sua alma.
Adormeceu,
Sonhou,
Esperou,
Trabalhou,
Se modificou.
Mas diante da lei universal,
Seu coração sobressaltou-se
E buscou a paz na oração.
De joelhos, em ato de humildade,
As lágrimas a escorrer,
Lançou aos céus um brado:
“Pai, tenho medo!
Meu passado me assombra!
A angústia me atormenta!
Não desejo facilidades,
Mas não quero perder-me como outrora!”
E do infinito uma voz ressoou
Com a suavidade de um riacho:
“Não terás comodidades
Nem obstáculos imerecidos,
Tudo o que te vier
Virá de tua construção.
Ainda carregas necessidade
De reparar a consciência,
Mas ouve o que te promete
A Divina Providência:
Em vista de teu esforço
No trabalho em teu interior,
Receberás uma oportunidade
Que entenderás como presente
E também como chance divina.
Serás mensageiro da luz,
Veículo da real beleza,
Servirás como medianeiro
Da perfeição que ainda dorme em ti.
Não terás as luzes da ribalta mundana,
Bailarás ao som de corações aflitos,
Espalharás as cores do astral,
Cantarás a glória como as estrelas,
E rimarás dor com crescimento.
E os aplausos que colheres
Se convertam em humildade e serviço.
Levanta, ergue o olhar, pois
Tua dádiva será
Ser um artista do Cristo.”
Refeito de seus medos,
Aquele ser levantou
Com lágrimas de alegria.
Aceitou a nova tarefa,
Transformou medo em vigilância,
Sofrimento em oração,
Incerteza em trabalho.
Se queres saber onde está,
Em que veículo ele se encontra
E o que será do momento seu,
Basta comigo dizer:
Este ser sou eu.
28/08/11
Texto escrito sob inspiração durante a realização do 10º AME (Arte no Movimento Espírita) que teve como tema “Conte a sua história”. 

2 comentários:

  1. Muito lindo essa sua história, me emocionei em ler esse poema. Abraços!

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  2. linda psicografia, gláucio! me emocionou muito :) jaque

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