quinta-feira, 21 de junho de 2012

Acordes


Violão, meu violão,
em tuas cordas me derramo,
em tuas curvas me debruço
sem te ver a obviedade da metáfora feminina,
lugar comum que anda com tantos,
mas comigo não, Violão.
Teus volteios são pra mim
como as estradas por que passo;
cada curva de caminho
é um acorde que me desperta humano.
As tuas cordas tão retas-paralelas
se encontram sob a pressão de meus dedos,
mas sei que sou eu que me encontro nelas.
O teu punho e o teu braço
trazem a força dos sons diversos
e no reverso de tantas casas,
quanta beleza ainda jaz adormecida,
quanta verdade ressoa de tua boca,
esse buraco negro que atrai tudo,
mas que derrama e espalha a luz.
Já andaram me perguntando
do que é que você é feito,
se de pinho, de mogno, se de jacarandá
se de algumas madeiras nobres,
mas eu respondo que nobre mesmo
é você ser feito de música.
E digo sem nenhum exagero
que aquele símbolo do Moebius
com que trançam o infinito
é o teu corpo, violão,
encaixado e tocado nos braços de Deus.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Presente de Poeta

Esta semana abro o espaço para a queridíssima amiga Eneida Nalini, de cujas mãos e coração recebi o belo texto que ilumina esta página. Obrigado, querida.
Novas facetas de um velho artista
E se sabemos que múltiplos somos
E desse modo, sem temor, no tempo
Vamos nos compondo.
Que seja assim.

Versos de artista, canções, coragem, ilusões
“Vozes” entoadas num tímido violão
Que quer e deseja ressoar.
Que assim seja.

Palavras de outrem tranquilas para
Na memória entrar
Léxico, que meu, vem e vai pra nunca mais.
Papéis, óculos, caneta, boina, ação
E surpreendentemente um violão
“no show que há em nós”
Que assim perpetue

Figura buscando a luz
No palco mentiras-verdadeiras
Escorrendo pelas palavras
De um ator-cantor...
que a música cessa para
brechtianamente apontar e dizer
a deixa de ninguém.
E assim perdure
No corpo, na voz, na palavra
Desse ser que se faz alguém!
            Amém, Amém!
Eneida Nalini
08/06/2012